Tempos infelicianos

18/09/2013 10:54

Em tempos de tanta injustiça em nome da justiça, de tanto ódio em nome do amor, de tanta mentira em nome da verdade, cabe-nos perguntar: seguiremos o fluxo do mundo? Responderemos no mesmo tom? Pagaremos na mesma moeda? Relembremos o que Ele disse:

“Mas, eu digo a vocês que me escutam: amem os seus inimigos, e façam o bem aos que odeiam vocês. Desejem o bem aos que os amaldiçoam, e rezem por aqueles que caluniam vocês. Se alguém lhe dá um tapa numa face, ofereça também a outra; se alguém lhe toma o manto, deixe que leve também a túnica. Dê a quem lhe pede e, se alguém tira o que é de você, não peça que devolva. O que vocês desejam que os outros lhes façam, também vocês devem fazer a eles. Se vocês amam somente aqueles que os amam, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores amam aqueles que os amam. Se vocês fazem o bem somente aos que lhes fazem o bem, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores fazem assim. E se vocês emprestam somente para aqueles de quem esperam receber, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores emprestam aos pecadores, para receber de volta a mesma quantia. Ao contrário, amem os inimigos, façam o bem e emprestem, sem esperar coisa alguma em troca. Então, a recompensa de vocês será grande, e vocês serão filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e maus. Sejam misericordiosos, como também o Pai de vocês é misericordioso” (Lucas 6,27-36).

O amor gratuito e sacrificial é a única - repito: única! - característica que distingue os discípulos de Jesus. Se você tem dúvidas quanto a isso, releia João 13,34-35:

“Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros. Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos”.

Declarar amor a quem nos ama e respeita é fácil; distribuir beijos e abraços a quem nos afaga é moleza! Mas a fibra de nossa fé se prova quando, ao invés do afago, vem a bofetada; ao invés do abraço, a cusparada no rosto; e o único beijo recebido é o de Judas no jardim.

Quando as lutas se acirram, aprofundando as trincheiras, a tendência de nosso coração é se endurecer, resfriado como se o sopro gélido do inverno fizesse morada em nossa alma. O Mestre nos advertiu quanto a isso: "A maldade se espalhará tanto, que o amor de muitos se resfriará" (Mateus 24,12). Mas Jesus não nos chamou para cavar trincheiras, nem erguer muralhas. Pelo contrário: "Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus" (Mateus 5,9). O termo grego eirenopoioi significa, literalmente, "fabricantes de paz", referindo-se àqueles que constroem pontes entre as pessoas.

O clima de "guerra santa" tem se espalhado pelo Brasil. Ao invés do Evangelho, temos visto lideranças cristãs brandindo constituições e códigos penais do alto de suas tribunas. As pessoas aguardam avidamente a próxima notícia, o próximo escândalo, o próximo confronto entre os "depravados", "imorais", "pervertidos", de um lado, e os "defensores da fé e da família", do outro. E quando jovens saem presas, arrastadas pelos agentes do Estado, de um culto evangélico, a multidão vibra como se Jesus tivesse, ao melhor estilo Rocky Balboa, nocauteado Satanás. Pela santa cruz de Cristo, o que é isso, companheiro? A que ponto chegamos?

Que os ativistas de tantas causas têm ultrapassado todos os limites do respeito e do bom-senso, não tenho dúvidas. Isso não está em discussão aqui. Mas, por favor, respondam-me uma pergunta: quantas vezes, segundo os Evangelhos, "ativistas pecadores" invadiram uma reunião do Senhor Jesus para afronta-lo e tumultuar suas pregações? Quantas vezes Jesus chamou os centuriões ou a guarda do Templo para afastar agressores da moral e da decência pública? Nenhuma! E sabe por que? Porque Jesus atraía os pecadores pela graça que fluía de seus lábios, pelo amor verdadeiro com que acolhia a todas as pessoas. Os "pecadores" não repeliam Jesus, nem eram repelidos por Ele. Os religiosos daquele tempo tinham prazer em acusa-lo de ser "amigo de prostitutas e pecadores" - e Jesus nunca renegou essa caracterização.

A mensagem do Reino é inegociável: não importa o que o mundo faça, eu não farei o mal. Não amaldiçoarei. Não caluniarei. Não odiarei. Não agredirei. Não revidarei. Minha justiça é Javé, meu advogado é Jesus, meu tribunal é o Céu, minhas armas são o amor, a esperança e a fé. Não pagarei o mal com o mal, mas vencerei o mal com o bem.

“Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo, e odeie o seu inimigo!’ Eu, porém, lhes digo: amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que perseguem vocês! Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu, porque ele faz o sol nascer sobre maus e bons, e a chuva cair sobre justos e injustos. Pois, se vocês amam somente aqueles que os amam, que recompensa vocês terão? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? E se vocês cumprimentam somente seus irmãos, o que é que vocês fazem de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está no céu” (Mateus 5,43-48).

Paz e bem!