Sobre o conflito na Síria

20/09/2013 22:49

“Por que as nações se rebelam, e os povos planejam em vão? Os reis da terra se revoltam e, unidos, os príncipes conspiram...” (Salmo 2,1-2)

Os protestos contra o governo do presidente Bashar al-Assad, ditador da Síria desde 2000, começaram em março de 2011, na esteira das convulsões políticas do norte da África e Oriente Médio denominadas Primavera Árabe. Diante das manifestações, governos de décadas desabaram fragorosamente, a exemplo de Mubarak, do Egito, Saleh, da Tunísia, e Kadafi, da Líbia. No caso do Egito e da Tunísia, os presidentes saíram sem grande resistência, enquanto a queda de Kadafi se deu após uma guerra sangrenta. O que esses três ditadores tiveram em comum foi a falta de apoio externo aos regimes que lideravam. Tal apoio, no entanto, não falta a Assad, que se sustenta com o auxílio declarado da Rússia e, de forma mais discreta, da China.

A razão pela qual Rússia e China apoiam a Síria é simples: oposição aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos no Oriente Médio. O anti-americanismo ingênuo de algumas pessoas as impede de perceber o óbvio: a sordidez que motiva as intervenções de Moscou e Pequim mundo afora não deixa nada a desejar à violência estadunidense. Como o Profeta Daniel e o Apocalipse nos revelam por meio de sua linguagem simbólica, as potências deste mundo tenebroso sempre são bestas selvagens que devoram a terra em nome de poder, glória e conquista.

Em junho de 2011, quatro meses após o início dos protestos na Síria, a situação já havia degenerado em violência aberta, com o número de mortos chegando a cerca de 1100 pessoas. Os opositores de Assad, provenientes das mais variadas facções políticas e religiosas - muitas delas rivais, unidas apenas pelo ódio ao ditador - tentam formar uma coalização de forças capaz de fazer frente ao Exército legalista. O conflito se dissemina, com massacres terríveis atingindo cidades como Homs, Hama, Houla, Alepo e a própria capital, Damasco. A combalida Organização das Nações Unidas tenta, sem sucesso, aprovar duas resoluções contra a Síria, barradas por russos e chineses. Kofi Annan, nomeado mediador da ONU no conflito, renuncia em abril de 2012, admitindo sua impotência para lidar com um conflito sem solução aparente. Em 2013 um fator novo complica ainda mais a situação: ataques com armas químicas atingem cidades sírias, inclusive Damasco. Começa a disputa pela "verdade": quem usou as armas - o governo, para destruir a oposição, ou a oposição, para incriminar o governo?

Diante disso, o presidente Obama ameaça atacar a Síria com seus poderosos mísseis, e a Rússia intervem. Impasse, Navios americanos se deslocam no Mediterrâneo, enquanto os russos deslocam suas embarcações no mar Negro. John Kerry e Sergei Lavrov se reúnem em 12 de setembro, produzindo um acordo para evitar o ataque americano. A guerra civil síria dá lugar à guerra de palavras nos noticiários. Mas as pessoas continuam morrendo. Mais de 100 mil até agora, além de milhares de feridos e milhões de refugiados. Li hoje uma notícia que machucou meu coração: mais de quatro mil crianças sírias atravessaram as fronteiras sozinhas, pois se perderam de suas famílias.

No dia 16, uma comissão da ONU chefiada pelo comissário brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro divulgou um relatório assustador sobre a situação da Síria: há uma autêntica tragédia humana em curso, com massacres, tortura, estupros e toda sorte de violência cometidos por combatentes dos dois lados, tanto os opositores quanto os soldados de Assad. E conforme depoimento dado pelo comissário no dia 12, o debate político tem deixado esses desastre humano em segundo plano. Como sempre, vidas humanas são vítimas descartáveis nos altares profanos da deusa Política.

Como essa guerra terminará? Que desdobramentos poderão ocorrer no Oriente Médio e no mundo? Não sei, e ninguém sabe. Ninguém, exceto Aquele que, apesar do caos aparente da história humana, é o Senhor soberano de todos os destinos. Não creio, absolutamente, que a guerra da Síria, ou qualquer outra guerra, seja resultado da vontade de Deus. O Eterno não precisa do mal para realizar o seu propósito, mas as escolhas más dessa raça caída de filhos de Adão trouxeram e trazem o mal sobre a Terra, manchando de sangue o solo poeirento de onde viemos e para onde voltaremos. E desse mal, resultante das decisões perversas dos reis e poderosos, dos príncipes e governantes, Deus pode fazer brotar o bem. E eu creio, com todas as forças de meu coração vacilante, que o meu Redentor está vivo, e que por fim se levantará sobre a terra. E nesse dia, meus caros, depois de uma noite gelada e sombria, o Sol da justiça resplandecerá em todo o seu poder.

Por que Obama e Putin conspiram e discutem em seus gabinetes? Por que Kerry e Lavrov conferenciam em vão? Por que Assad e os rebeldes sírios semeiam a morte, como se dela pudesse resultar algum bem? Sabei, em toda a Terra, que o governo pertence a Javé!

“O sétimo Anjo tocou a trombeta. E vozes bem fortes começaram a gritar no céu: ‘A realeza do mundo passou agora para Nosso Senhor e para o seu Cristo. E Cristo vai reinar para sempre” (Apocalipse 11,15).

 

Paz e bem!